Como é a sua rua? Dá vontade de caminhar na calçada? Você se sente seguro andando de bicicleta por ela?
Sabe essa sensação de que o seu dia poderia ser melhor aproveitado? Se você não está fazendo tanto exercício quanto gostaria, saiba que a preguicinha não é a única responsável. Talvez você ainda não tenha percebido, mas a forma da sua cidade também tem grande influência sobre seus hábitos.
Analise seu bairro. Você pode ir ao trabalho de bicicleta ou de transporte público? Dá pra ir à pé à padaria ou você precisa pegar o carro? Há algum parque ou praça perto da sua casa onde você possa se exercitar ou encontrar com os amigos?
A forma da cidade em que vivemos influencia diretamente nosso estilo de vida. Funciona assim: o planejamento urbano determina a localização das áreas residenciais e comerciais, onde está o trabalho; se existem serviços perto de onde moramos, como escolas e outros equipamentos; se todos temos acesso a transporte público,se há uma ciclovia na porta de casa ou boas condições das calçadas para caminharmos com segurança.
Nas últimas décadas as cidades brasileiras viveram um surto de urbanização que promoveu um crescimento desordenado, com um um planejamento voltado para carros e não para as pessoas. O resultado foram centros urbanos focados no transporte individual motorizado, proliferação de bairros exclusivamente residenciais e condomínios fechados, murados e distantes dos centros de trabalho, e um descaso em relação à criação de parques, praças e espaços públicos para convivência.
E esse planejamento pensado para carros faz com que as ruas fiquem vazias, o que estimula a insegurança e criminalidade que leva os moradores a se isolarem e se desinteressarem pelo local onde vivem. No final dessa história, nos vemos forçados a usar automóveis e, com medo de ocupar o espaço público, nos restam poucas oportunidades de fazer atividade física no dia-a-dia. Por isso, ficamos mais propensos ao sedentarismo, ganho de peso ou a desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares ou mesmo cânceres e até doenças mentais.
Os números estão aí para comprovar isso. Segundo dados do Ministério da Saúde, hoje metade dos brasileiros têm sobrepeso, o que agrava doenças crônicas como diabetes, hipertensão, cânceres e outras. Se compararmos aos resultados de uma pesquisa feita pelo IBGE, em 1975, quando as grandes cidades brasileiras começaram a crescer, a diferença é gritante: na época, em torno de 20% da população estava acima do peso (dados ENDEF 1974-1975 e Vigitel 2014).
Um movimento chamado Active Design, que nasceu nos Estados Unidos e chegou ao Brasil através da organização Cidade Ativa, estuda essa relação entre forma urbana e saúde, visando promover um estilo de vida ativo através da mudança das nossas cidades.
O raciocínio por trás desse movimento é simples: se no início do século 20 as doenças infecciosas foram combatidas por reformas urbanas que garantiram infraestrutura de saneamento, maior ventilação e insolação de edifícios, as doenças não transmissíveis também podem ser prevenidas e controladas por um novo modelo de planejamento, de desenho urbano e de arquitetura.
E que modelo é esse? Como devem ser pensadas e desenhadas nossas cidades para que elas cuidem de seus cidadãos? O Active Design desenvolveu um checklist que orienta projetos urbanos e de edifícios para que sejam verificados se os elementos que promovem hábitos mais saudáveis foram considerados. Para os projetos urbanos, são consideradas estratégias relacionadas a: uso misto; trânsito e estacionamento; praças, parques e áreas de lazer; comércio e serviços; conectividade; moderação de tráfego; ciclovias e áreas pedestrianizadas, entre outros.
A Cidade Ativa também define algumas estratégias para cidades mais inclusivas, resilientes e saudáveis, onde:
- As pessoas possuem acesso aos mesmos serviços e podem fazer escolhas de como se deslocar;
- Há boa distribuição e oferta de transporte público com intermodalidade garantida;
- Existe infraestrutura cicloviária para bicicletas e, também bicicletários e vestiários;
- As calçadas são acessíveis, seguras e atraentes para pedestres;
- O espaço dos pedestres é priorizado, em detrimento do espaço dos carros;
- Iniciativas diversas voltadas à oferta de áreas de lazer na cidade são promovidas;
- Moradia e trabalho são aproximadas, evitando zonas monofuncionais e deslocamentos diários muito longos.
- Os cidadãos são incluídos nos processos de decisão e engajados a participarem ativamente.
A cidade que cuida de seus cidadãos é a mesma cidade que cuida do meio ambiente, que busca atender às necessidades de todos - independente de suas capacidades -, que garante os interesses do coletivo, e que é feita por e para pessoas.
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A partir de hoje, a organização Cidade Ativa nos apresenta um artigo por mês. Veja todos aqui.